O que o teclado Qwerty tem a ver com o seu emagrecimento

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Olá, pessoal! Hoje o blog está recebendo um convidado que já escreveu vários posts sobre Dietas Paleo e Low Carb. Hilton, ao longo de alguns anos, vem adquirindo conhecimento acerca dessas dietas e, especialmente neste artigo, nos faz pensar sobre como as coisas mudam e como continuamos com nossas crenças.

O futuro é nosso para mudarmos. A questão a ser feita, entretanto, não é “por que nós deveríamos mudar nossa dieta?”, e sim “porque não?”

Boa leitura!

Por Hilton Souza

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Para escrever esse texto, usei um teclado QWERTY. A probabilidade de o seu computador, celular ou tablet ter um teclado QWERTY (físico ou virtual) é quase 100%. A menos que você use computadores feitos em outro planeta, é claro.

Mas o que é um teclado QWERTY ? Dê uma olhada no canto superior esquerdo do seu teclado. Se você vir as letras Q, W, E, R, T e Y, enfileiradas, parabéns – você é mais um dos bilhões de usuários desse padrão.
 
 

Olha o QWERTY aí, gente!

 

Padrão? Sim, padrão.

Proposto por humanos, construído por humanos e usado por humanos. Existem outros padrões de teclado, como o Dvorak, o ASERTY, o BÉPO e muitos outros dos quais nunca ouviremos falar cotidianamente, e muito menos colocaremos a mão.
 
Já se perguntou como é que o seu teclado foi projetado ? Por que as teclas ficam na posição que conhecemos ? Se a sua resposta foi “porque é o melhor jeito” ou “porque assim digitamos mais rápido”, você ERROU vergonhosamente!
 
Em uma bela aula de história, Jared Diamond nos conta que os padrões de teclado surgiram lá no século XIX, com a invenção da máquina de escrever comercial (a idéia da máquina em si é do século XVIII). Como essa máquina não existia antes, quando ela chegou ao mercado, cada fabricante fez a sua – ou seja, o teclado variava de fabricante para fabricante… Havia teclados que se pareciam com pianos, outros que funcionavam girando um dial e apertando um botão.
Alguns tinham teclas separadas para letras maiúsculas e minúsculas… Tais máquinas tinham problemas sérios quanto à velocidade com que se podia digitar: se você fosse muito rápido, provavelmente os tipos (aqueles “martelinhos” que batem contra a fita de tinta, imprimindo a letra no papel) iriam se enganchar uns nos outros, fazendo com que o trabalho fosse interrompido.
 
Pois bem: o teclado QWERTY foi projetado por Christopher Sholes, para diminuir a velocidade da digitação. A posição das letras foi determinada de tal maneira que o usuário digitasse mais devagar do que poderia.
As combinações mais comuns de letras na língua inglesa ficam acumuladas sempre na “mesma” mão; os dedos precisam se mover muito mais e trocar de linhas de teclas com mais frequência, então o digitador acaba desacelerando – o que evitava que os tipos se enganchassem. Ao fazer isso, as máquinas que usavam QWERTY “davam menos problemas”, passaram a ser mais usadas e acabaram dominando o mercado.
 
Acontece que em alguns anos, a limitação técnica das máquinas foi superada. Mesmo digitando muito rápido, os tipos não iam se enganchar. Além disso, a chegada do computador e da impressora praticamente eliminou a existência dos tipos mecânicos. Parece lógico que seria a hora de trocar o padrão de teclado por um que permitisse digitações mais rápidas, não é verdade ?
 

Se você pensa assim, ERROU vergonhosamente – de novo.

 Nos anos entre a adoção de QWERTY e o aprimoramento das máquinas de escrever, formou-se um batalhão de pessoas que sabia usar o padrão. Escrivãos, secretários, professores, contadores, repórteres, estudantes. E criaram-se escolas de datilografia. Milhões e milhões de lemingues digitadores não podem estar errados, correto ?
 
August Dvorak estudou as deficiências do QWERTY na década de 1910, e propôs o seu padrão nos anos 1930. Um teclado Dvorak permite ao datilógrafo ser até 74% mais rápido e errar 58% menos do que um QWERTY. Para formar um datilógrafo Dvorak, gasta-se menos de 50% do tempo de formação de um QWERTY. Os melhores recordes mundiais de digitação de texto foram feitos em teclados Dvorak.
 
Mas o teclado Dvorak nunca emplacou. O mercado já estava solidificado – era domínio QWERTY. August Dvorak morreu em 1975, amargurado:
 

“Estou cansado de tentar fazer algo de valor pela raça humana. Eles simplesmente não querem mudança!”

 
Cerca de 30 anos antes de August Dvorak nascer, morria Ignaz Semmelweiss. Em 1865, Semmelweiss foi admitido em um asilo para insanos (nomenclatura da época), e faleceu 14 dias depois em virtude de espancamento pelos guardas. O Dr. Semmelweiss foi um médico húngaro reconhecido na atualidade como “pioneiro dos procedimentos antissépticos”.
Na sua época, ele propôs uma teoria inovadora: a de que os médicos deveriam lavar e desinfetar as mãos antes de realizar partos, especialmente se tivessem feito dissecção de cadáveres antes. Instituindo essa prática no hospital em que trabalhava, ele reduziu a mortalidade de bebês por infecção puerperal (que hoje sabemos ser causada por uma bactéria) de 10 para 1%.
 
 
Dr. Semmelweiss, cabra de respeito
 
 
No entanto, como a existência de microorganismos não havia sido comprovada (Louis Pasteur só comprovou isso após a morte de Semmelweiss), a comunidade médica reagiu violentamente à teoria e a reputação do doutor foi ridicularizada e destruída – mesmo ele tendo os fatos da diminuição da mortalidade a seu lado. Em depressão, e possivelmente por uma combinação de Alzheimer e sífilis, ele foi internado à força e morreu aos 47 anos.
 
Enquanto August Dvorak desenvolvia seu teclado, nascia e crescia em Londres, John Yudkin. O Professor Yudikin foi um nutricionista e fisiologista que pregava abertamente sobre os malefícios do açúcar, e que publicou em 1972 o livro “Puro, branco e mortal”.
A sua intenção era sumarizar a evidência de que o excesso no consumo do açúcar estava levando a uma incidência elevada de trombose coronária, e que além disso estava certamente envolvido com cáries, provavelmente envolvido com diabetes, obesidade, doença hepática, e possivelmente ligado à gota, dispepsia e alguns cânceres.
 
Recheado de estudos, o livro traz em seu último capítulo uma listagem de diversas tentativas de interferir com os fundos de sua pesquisa e evitar a publicação. Ele também dá exemplos da linguagem rancorosa e dos ataques pessoais que o epidemiologista americano Ancel Keys – que havia proposto que a gordura saturada era a causa primária da doença cardíaca – empregava para negar a evidência de que o açúcar era o verdadeiro culpado.
Os esforços da indústria alimentícia em desacreditar o caso contra o açúcar foram largamente bem-sucedidos, e quando Yudkin faleceu em 1995, seus alertas não eram mais levados a sério.
 
Outro dia, pesquisando sobre as diretrizes alimentares americanas de 1977, eu esbarrei com um texto do Dr. John McDougall. Nunca tinha ouvido falar nesse médico até então, mas descobri rapidamente que ele é autor de “The Starch Solution” (em tradução livre, “A solução do amido”), que prega as dietas ricas em amido como solução para emagrecimento e boa saúde.
 
No texto do Dr. McDougall, ele destila suas mágoas sobre as diretrizes dietárias de 77, elaboradas sob coordenação do finado Senador George McGovern – não no sentido de achar que as diretrizes foram ruins por definição para a população, como os partidários de LCHF acham (eu me incluo aqui), mas por acreditar que elas não foram seguidas.
 
Na opinião de McDougall, as diretrizes propostas por McGovern, que incluiam aumentar o consumo de vegetais ricos em amidos e diminuir o consumo de gorduras saturadas, sal e açúcares simples, foram desvirtuadas pela indústria e o público passou a se alimentar basicamente de gordura saturada e açúcar.
 
Nas palavras de McGovern, que constam nas diretrizes:

“A questão a ser feita, entretanto, não é ‘por que nós deveríamos mudar nossa dieta?’, e sim ‘porque não?’. Quais são os riscos associados com comer menos carne, menos gordura, menos gordura saturada, menos colesterol, menos açúcar, menos sal e mais frutas, legumes, gorduras insaturadas e cereais – especialmente grãos integrais ? Não há nenhum que possa ser identificado e benefícios importantes podem ser esperados”.

Perceba que, do ponto de vista LCHF, o senador acertou um pedaço da jogada… Menos açúcar? Bingo! Mais grãos? Ops. Os riscos associados ao consumo do trigo (integral ou não) já eram prenunciados por Yudkin nessa época – afinal de contas, o índice glicêmico do trigo e do açúcar de cozinha é basicamente o mesmo (pasmem o do trigo ainda consegue ser maior que o do açúcar). Quanto a trocar as gorduras saturadas por insaturadas “não ter risco”, Hoje podemos ver o outro lado da moeda. Já o Dr. McDougall, em seu artigo, nos diz:

“O futuro, entretanto, é nosso para mudarmos. Com ações governamentais similares às propostas pelo Senador George McGovern 35 anos atrás, quase da noite para o dia as crianças e soldados poderiam ser tornadas tão fisicamente condicionadas quanto maratonistas são hoje, e tão fortes quanto os poderosos gladiadores que lutavam nos coliseus romanos eram, dois milênios atrás. Essas duas classes de atletas de elite sempre foram alimentadas com dietas baseadas em amidos, quase veganas, e não por carne vermelha, aves, peixe, queijo, ovos, açúcar e óleos – a dieta atual das crianças e soldados”.

 

Queria frisar alguns pontos das falas de ambos: 

  1. Sei que existem povos que baseiam sua alimentação em uma grande quantidade de amidos, e são saudáveis – os kitavanos e os okinawanos com suas grandes quantidades de batata-doce, por exemplo. Mas perceba que o que o Senador McGovern propôs, no final das contas, era um aumento do consumo de grãos, cujo índice glicêmico é bem mais alto que o da batata-doce (IG=70 ou mais no trigo, IG=54 na batata-doce), e que de quebra ainda traz o glúten à tiracolo. McGovern foi duramente atacado pelas indústrias de gado e açúcar, isso é fato. Mas o inimigo do meu inimigo não é necessariamente meu amigo. A indústria dos grãos, de mãos dadas com a do açúcar, ganhou a briga – e isso é o que Dr. McDougall se esquece de lamentar.
  2. Quanto à “dieta dos gladiadores”, achei esse texto interessante. Um trecho: “Relatos antigos da vida dos gladiadores às vezes se referiam aos guerreiros como hordearii – literalmente, ‘homens de centeio’. Grossschmidt e seu colaborador Fabian Kans sujeitaram fragmentos de ossos à análise isotópica, uma técnica que mede traços de elementos químicos tais como cálcio, estrônico e zinco, para ver se conseguiam descobrir o motivo. Ele tiveram resultados surpreendentes. Comparados aos habitantes médios de Éfeso, os gladiadores comiam mais plantas e muito pouca proteína animal. A dieta vegetariana nada tinha a ver com pobreza ou direitos dos animais. Os gladiadores, ao que tudo indica, eram gordos. Consumir um monte de carboidratos simples, como centeio, e leguminosas, como feijões, era questão de sobrevivência na arena. Entupindo-se de carboidratos eles ganhavam muitos quilos. ‘Os gladiadores precisavam de gordura subcutânea’, Grossschmidt explica. ‘Um acolchoado de gordura te protege de cortes e escuda os nervos e vasos sanguíneos numa briga’. Não apenas um gladiador magro teria virado carne morta, ele também daria um show ruim. Cortes superficiais ‘aparentam ser mais espetaculares’, diz Grossschmidt. ‘Se eu for ferido apenas na camada gordurosa, eu posso continuar lutando’, adiciona. ‘Não machuca muito, e tem boa aparência para os espectadores’.”. Pois é… Para quem tinha uma expectativa de vida baixinha, entupir-se de carboidratos e morrer gordo não é tão ruim assim.
  3. Usando a nossa analogia de trocar um teclado “pior” por um “melhor”, McGovern conseguiu fazer o que Dvorak não fez: convenceu as pessoas a trocarem uma dieta “pior” (ou seja, rica em gordura) por uma “melhor”, rica em carboidratos. Emplacar essa inverdade custou anos de trabalho, muita mídia e o apoio governamental.
 
Pois bem o nosso passado já foi mudado. Mas eu quero parafrasear a dupla McDougall/McGovern dizendo o seguinte:
 
O futuro é nosso para mudarmos. A questão a ser feita, entretanto, não é “por que nós deveríamos mudar nossa dieta?”, e sim “porque não?”
 
As evidências se acumulam diariamente. Basta abrir os olhos e querer pesquisar, para ver que a dieta proposta e vendida como saudável nos dias de hoje (60% de carboidratos!) não funciona – muito antes o contrário, está cada dia deixando mais pessoas doentes.
 
O legado de Dvorak, Semmelweiss e Yudkin precisa viver em nós: a ciência é feita de camadas superpostas, cada uma construída sobre o que a geração anterior deixou. Cabe à geração atual o dever da dúvida e o direito de tentar mudar o status quo. De outra forma, não praticamos ciência e sim um dogma religioso cristalizado.
 
 
hilton-antes-e-depoisHilton Sousa é mineiro do interior, mas mora em Belo Horizonte há mais de 20 anos. Depois de alguns anos chafurdando na comilança de bobagens, decidiu tomar jeito na vida e passou a comer comida de verdade em fevereiro/2013. Emagreceu 15kg em 4 meses, e o peso se mantem desde então (já são quase 4 anos!): é atualmente um quarentão em embalagem de 18. É também estudante de nutrição, autor e coach em dieta paleo, e reuniu toda a sua experiência com emagrecimento em um manual para ajudar quem queira fazer a transição para uma alimentação mais saudável.
 
 

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Adriana Araújo, coach de emagrecimento e graduanda em nutrição, adepta do Low Carb desde 2014. Emagreci 35kg sem sofrer e sem passar fome! Aqui você vai encontrar dicas e relatos sobre minha rotina na dieta low carb, receitas e muito mais. Seja bem-vindo!

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